terça-feira, 26 de outubro de 2010

O Narcisismo

Pretendo por meio destes textos pensar a psicanálise e sua relação com o cotidiano. Então convido-o para um passeio, nada seguro, nessa espécie de des-coberta  daquilo que já lemos e lemos e falamos, mas que ainda persiste num cantinho de nossas mentes como algo à ser melhor esclarecido.
Seria interessante também começar pelo pressuposto de que nada sei, pois pensando dessa forma minha angústia se aplaca e abre espaço para a formulação da questão em si: O que é narcisismo?
A palavra é derivada da Mitologia Grega. Narciso era um jovem e belo rapaz que rejeitou a ninfa Eco, que desesperadamente o desejava. Como punição, foi amaldiçoado de forma a apaixonar-se incontrolavelmente por sua própria imagem refletida na água. Narciso suicidou-se por afogamento.
Para Freud, o narcisismo descreve a característica de personalidade de paixão por si mesmo e constitui em uma parte de todos nós desde o nascimento e, segundo Andrew Morrison, em adultos, um nível razoável de narcisismo permite que um indivíduo equilibre a percepção de suas necessidades em relação à de outrem.
Em psicologia e psiquiatria o narcisismo muito excessivo é o que dificulta o individuo a ter uma vida satisfatória, é reconhecido como um estado patológico e recebe o nome de Transtorno de personalidade narcisista. Indivíduos com o transtorno julgam-se grandiosos e possuem necessidades de admiração e aprovação de outras pessoas em excesso.
Em psicanálise o narcisismo representa um modo particular de relação com a sexualidade, sendo um conceito crucial para a formação da teoria psicanalítica tal qual conhecemos hoje. Em 1914 Freud lançou o livro Sobre a Introdução do Conceito de Narcisismo, neste livro o autor subdivide o narcisismo em duas fases:

·         Narcisismo primário- é a fase auto-erótica, o primeiro modo de satisfação da libido, onde as pulsões buscam satisfação no próprio corpo. Nesse período ainda não existe uma unidade do ego, nem uma diferenciação real do mundo.

·         Narcisismo secundário - ocorre em dois momentos: o investimento objetal e o retorno desse investimento para o ego. Quando o bebê já consegue diferenciar seu próprio corpo do mundo externo ele identifica quais as suas necessidades e quem pode satisfazê-las, então concentra em um objeto suas pulsões parciais, geralmente na mãe.
O narcisismo não é apenas uma condição patológica, mas também pode ser protetor do psiquísmo no sentido de  promover a constituição de uma imagem de si unificada, perfeita e inteira para fornecer a integração de uma figura positiva e diferenciada do outro, guardadas aí as proporções.
O despertar do amor nas relações interpessoais e com o mundo à nossa volta, requer, antes de mais nada, o gostar de si mesmo, ou seja, desenvolver o amor próprio no sentido de estruturar a auto-estima e sentir-se mais à vontade no seu âmbito de relacionamentos.
Dificilmente o indivíduo irá amar, se antes, não tiver desenvolvido a energia do auto-amor. É a partir dessa experiência íntima, que se inicia nas relações estabelecidas na infância com a mãe, figura referencial para o bebê, que o indivíduo desenvolve o amor-próprio de uma forma equilibrada ou desequilibrada. O saudável da questão aponta na adolescência e na fase adulta o surgimento do narcisismo bom. O patológico da questão sinaliza a personalidade narcisista, egocêntrica, com fixações na infância.
A rigidez na educação (não confundir rigidez com firmeza), é responsável pelo desencadeamento de diversas psicopatologias, desde as neuroses comuns até os transtornos de personalidade mais complicados de tratar pela psicoterapia. E o narcisismo não resolvido é um deles, porque o seu portador costuma competir conhecimento com o seu terapeuta, tornando o processo terapêutico difícil e, muitas vezes, inviável.

O narcisismo, quando bem resolvido, abre para o indivíduo um leque de possibilidades de crescimento em sua vida pessoal e profissional, enquanto o narcisismo não resolvido, por possuir um traço marcadamente egocêntrico, fecha ou restringe ao seu portador, a possibilidade de expandir-se nas áreas social e profissional.

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