“Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.
(Fernando Pessoa)
Lendo Fernando Pessoa, se abriram em mim várias associações que me fizeram pensar sobre o que é preciso para que uma pessoa inicie um processo psicoterapêutico. Provavelmente um conflito que não se cala, uma busca de amor e sentido na vida, talvez um desejo de se conhecer mais e melhor. O certo é que, independente do motivo, em algum lugar houve um desencontro, uma palavra não dita ou não ouvida, se instalando aí uma angústia que faz sofrer.
E o que é psicoterapia?
É uma relação entre duas pessoas, elas mesmas. Ponto. Simples expressão do senso comum, mas, por outro lado, repleta de possibilidades. É o encontro a que se propõe paciente e psicoterapeuta no sentido de embarcar, viajar, abrir caminhos, procurar tesouros escondidos, respostas jamais imaginadas. Portanto, é um encontro possível de ser vivido onde aquilo que o paciente traz encontrará acolhimento. É também um possível campo de desenvolvimento, naturalmente levando-se em conta o embasamento teórico e prático dos grandes mestres psicanalíticos.
O encontro possível: o de si mesmo!
Referências:
GENTILEZZA, Luciana. Cataventos do Sentir: o trabalho psicanalítico com crianças. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007
MONTAGNA, Plínio. Além da transferência e da contratransferência: o encontro. Revista Brasileira de Psicanálise, São Paulo, volume 35, nº 3, p. 531-542, 2001